segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Tudo bem, tudo zen...Tratando o hemangiossarcoma canino

É muito estranho quando um veterinário olha para você e lhez diz com todas as letras que seu cachorrinho tem câncer.

Eu me senti desmoronando por dentro.

Uma coisa é autorizar uma cirurgia urgente. Outra é decidir se, depois de tudo, você vai autorizar um tratamento quimioterápico, que é hiper desgastante, numa cachorrinha que já tem 10 anos.

Fica sempre uma ponta de dúvida:

- Será que vale a pena?

- Será que vou fazer o animalzinho sofrer desnecessariamente?

-Será que vai adiantar? O hamangiosarcoma é agressivo, é possível que já haja metástase...

-Será que se o cachorro pudesse decidir, optaria pelo tratamento? Ou será que me pediria para deixá-lo ir ?

-Se eu autorizar, estarei fazendo isso pela Theodora ou por mim?

Peguei Theodora no colo, olhei bem pra ela, tentando traduzir-lhe o olhar.

- O que eu devo fazer, amigona? Posso lhe pedir que seja guerreira mais uma vez? Vamos derrotar este monstro como fizemos daquela vez com aquele outro monstrengo da doença do carrapato? Ou você já está cansada? Você quer ficar mais um tempo com a gente? Será que tenho o direito de lhe pedir isso depois de tudo este perrengue que você passou?

Por um instante fiquei com medo de ter lido nos olhos da Theodora que ela queria permissão para desistir. Que preferia que eu não lhe pedisse mais pra ficar. Que tinha sido uma amiga fiel, que estava agora na hora de se despedir.

Senti um nó na garganta.

Mas eu sou míope, oras. Não enxergo nada direito. Resolvi olhar de novo.

Ufa!

O segundo olhar foi de esperança.

Enxerguei desta vez um brilho de cumplicidade nos olhinhos da Theodora. Ela abanou seu rabinho cotó na "velocidade cinco", seu máximo da expressão de alegria. Parecia que me dizia que encararia o desafio mais esta vez, que era pra eu deixar de ser boba, a gente ia conseguir sair dessa.

- Ok, Dr Luciano, faremos a quimio, desde que a Theodora não sofra. Se ela passar mal, paramos.

Optamos pelo quimio paliativa. Sem sofrimento.

Agendamos a sessão. Comprei os remédios complementares para serem dados em casa. Genuxal (difícil de encontrar) e um corticóide.

Fiz um cartãozinho com os nomes e horários dos medicamentos.

Eu adoro cartões e cartazes. É uma mania. Desde menina, quando via um cartaz malfeito em algum bazar e padaria, tinha vontade de me oferecer para fazer outro melhor no lugar.

Quando cresci, virei publicitária.

O cartãozinho de remédios da Theodora ficou uma belezinha, com cores alegres, todo feito com colagens e papéis especiais( Mesmo assim, ainda erramos um dos horários, a Theodora acabou tomando uma dose dupla de Genuxal).

Mas apesar de ser totalmente favorável à alopatia, nestas horas toda ajuda é bem-vinda, e abraçamos a homeopatia como reforço extra: chá de ype roxo, banhos com confrei.

Minha irmã, mesmo com a convicção de que "o melhor amigo do homem não é o cão, é o Rivotril" também é adepta das homeopatias e energizações. Não como substituição à alopatia, isso nem pensar, mas como complementação. Por isso, além de descobrir onde conseguir ype roxo, ela abriu a agenda e ligou para uma amiga terapeuta holística.

As duas conversaram e combinaram de iniciar um tratamento totalmente zen para a Theodora.

O Jin Shin é uma técnica terapêutica de origem japonesa (ou será chinesa?), uma espécie de do-in que visa equilibrio das energias vitais.

Esses caras do oriente sabem das coisas. temos que admitir: Eles inventaram muitas coisas maravilhosas e trouxeram grandes contribuições para o mundo, muito além do sushi, dos rolinhos primavera e do China-in-Box.

Rossana, a terapeuta, chegou em casa, e, muito à vontade, esborrifou um spray no ar. Ela não explicou o que era, provavelmente algo para harmonizar o ambiente. O spray não tinha cheiro (pelo menos ninguém espirrou), e fiquei sem entender se aquilo era um ritual ou se a casa estava cheirando a cachorro e ela quis disfarçar.

Não entendi, mas achei melhor continuar sem entender, e não perguntei nada. Vai que eu desconcentro a pessoa...melhor fingir que nem notei o detalhe do spray.

Rossana sentou no tapete, acomodou a Theodora bem ao seu lado e começou a posicionar os dedos numa sequência determinada, para liberar os fluxos de energia da cachorrinha, que, a esta altura, estava toda escarrapachada, achando lindo toda aquela movimentação zen em torno dela. Virou de barriga pra cima e só faltou babar, de tanto que estava curtindo.

A terapeuta ia explicando: quando se pressiona este ponto no corpo da cachorrinha, trabalha-se a energia do pulmão, naquele outro ponto, a energia do coração.

Mas depois de cerca de meia hora, Theodora cansou de ficar parada, levantou-se e tentou sair andando, meio impaciente.

A pobre da terapeuta não podia tirar as mãos do lugar para não perder o andamento da coisa, e foi se esticando e se arrastando junto, os dedos grudados na Theodora, a cachorra andando e a Rossana andando atrás, um verdadeiro contocionismo.

Sem entender nada, Theodora me olhou como quem pede uma explicação para toda aquela cena nonsense.

Não consegui segurar o riso. Minha irmã me repreendeu com uma careta, e eu então fiz a Theodora sentar novamente, até a Rossana terminar o Jin Shin.

A nossa primeira experiência com Jin Shin foi na época em que Theodora pegou ictiose, a tal doença do carrapato, anos atrás.

A pobrezinha quase passou dessa para melhor. Fez tratamentos, transfusão de sangue e chegou a ser desenganada. Foi quando apelamos ao chá de quebra-pedra e ao tal do Jin Shin.

Após as sessões de Jin Shin, Theodora parecia mais animada e até bebia água.

Deu resultado na época, resolvemos repetir a dose agora.

Mas desta vez com upgrades. Além dos chás e da terapia do Jin Shin, Rossana e minha irmã colocaram a Theodora num gráfico de SaiBaba, um guru indiano que dizem ser um Avatar, um ser de Luz.

Um amigo viu uma foto de Sai Baba e o achou parecido com a Araci de Almeida.

Mas o fato é que ele é um guru respeitado, que prega a Paz e a quem atribuem milagres. De onde surgiu a idéia do tal gráfico, não sei, mas o nome da Theodora está lá, por via das dúvidas. Fé nunca é demais.

E o fato é que ela continua ótima, animada, brincalhona.

Tem gente que acha que estamos exagerando com essa coisa de zen, que um dia vão chegar em casa e ver a Theodora fazendo yoga e usando turbante.

Mas quer saber?

Não tô "zen" aí...

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