segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O começo do fim

Há semanas tento retomar as postagens, mas olho o notebook e o coração me emperra as mãos.
Antes de mais nada, quero dizer que toda esta luta foi válida.
Nào me arrependo um minuto sequer de ter feito tudo o que pude para tentar salvar a Theodora .
O tratamento contra o câncer - mais especificamente o hemangiossarcoma -, não foi tão difícil assim.
E posso afirmar que sim, o veterinário atingiu a sua expectativa.
O problema é que a minha expectativa era muito maior que a dele. Ele batalhava para 2 ou 3 meses de sobrevida com qualidade. Eu batalhava pelo milagre.
Mas ele sempre foi sincero e me alertava para festejar cada dia como se fosse uma grande e imensa conquista. Não havia como fazer promessas.
E Theodora lutou bravamente.
Lidou superbem com a quimio, saía até animadinha das sessões, e eu brincava que ela estava era tomando guaraná em pó em vez de quimioterápicos.
Foram meses de tensão, de preocupação, mas também de muita esperança.
Theodora, nestes meses, nos presenteou com momentos mágicos.
Como se soubesse da iminente despedida, fez questão de acrescer capítulos formidáveis à nossa história.
(Me desculpe, Marley, mas o melhor cachorro do mundo não era você...)
Difícil contar como a história acabou.
Mas o fato é que até o último instante, Theodora mostrou o que é ser guerreira e o que é ser fiel.
Numa lição de profunda amizade, Theodora me deixou a mais linda das mensagens e não me abandonou nem no último segundo de sua vidinha.
Vou tentar retomar o blog, retomando esta história do dia em que fui tomar sol na casa de uma amiga de infância.
Estávamos até então muito otimistas. Queria ver Theodora no Guiness Book, com o recorde mundial de sobrevida num caso de hemangiosarcoma.
Cheguei à casa desta amiga ainda cedo, e algumas horas depois minha irmã chegou trazendo a Theodora consigo. Theodora sempre adorou tomar sol, virando a pança para cima, e não raro atirando-se na piscina...
Mas Theodora não parecia muita animada.
Achei estranho, pensei que talvez ela não estivesse a fim de interagir com os outros cachorros, o golden retriever e os dois jackie russels da minha amiga, que se revesavam disputando minha atenção.
Mas depois de algum tempo, quando ela foi deitar sozinha num canto, fiquei preocupada.
Cachorro quando se isola assim, do nada, sem aparente motivo, é sinal de que algo vai mal.
E em pouquisismo tempo, Theodora ficou apática, parecia fraca, não quis comer ração.
Corri para o supermercado, comprei bananas (e um plasil por via das dúvidas).
Lembrei que o veterinário, na manhã anterior (um sábado), havia me dito que Theodora estava bem.
Fiquei repetindo mentalmente o que ela havia me explicado: o fígado havia apresentado algumas manchas no ultrassom, e por isso foi preciso fazer alguns novos exames. Mas o importante é que ela não estava vomitando, pois isso sim seria um sinal de comprometimento do fígado.
Ative-me a esta observação do médico como o náufrago que se agarra a um destroço no mar revolto.
Pois naquela noite Theodora vomitou um líquido amarelado.
E desta vez não era nenhuma manga.
Assim, do nada, de um dia para outro, ela, que parecia tão bem, ficou fraca.
Os olhos pareciam cansados, extremamente cansados.
Theodora vomitou quietinha num cantinho do quaro de hóspedes, e foi me chamar para mostrar que algo estava errado.
- O que você quer, Theodora? O que foi? Me mostra.
Segui-a. Ela entrou no quarto de hópedes, parou diante do tapetinho e olhou para mim.
Ao ver aquela gosma amarelada, entendi que era hora de me preparar para o pior.
Um vazio imenso tomou conta de mim.
Um antagonismo: um vazio preenchendo um coração...

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